No amor e na guerra, vale tudo

Título: A garota que você deixou para trás.

Original: The girl you left behind.

Autor(a): Jojo Moyes.

Editora: Intrínseca

Ano: 2014

Avaliação: ★★★★★ 

Skoob

A guerra não poupa ninguém, e Sophie Lefèvre descobriu isso da pior maneira. Quando seu marido Edouard é enviado para lutar no front, no auge da Primeira Guerra Mundial, Sophie abandona Paris e volta para sua cidade natal St. Péronne, com o intuito de cuidar de seus irmãos Helene e Aurelien. Lá ela assume o comando do Le Coq Rouge, antigo hotel da família. Com a chegada do novo Kommandat alemão na cidade, o estabelecimento é tomado como posto de alimentação para os soldados, atraindo para ela e sua família uma atenção indesejada. Diante de toda fome, miséria e degradação causada pela guerra, Sophie encontra forças em seu autorretrato, pintado pelo seu marido em tempos mais amenos e felizes. O retrato, pendurado de forma ostensiva na parede do hotel, chama a atenção do Kommandant, um militar diferente de todos os outros. É através do interesse pelo quadro que ele e Sophie começam a tecer uma relação amigável, e é nessa relação que Sophie vê a possibilidade de conseguir reencontrar o marido, por meio de um acordo desesperado, capaz de trazer consequências irreversíveis para ela e sua família.

"Uma vez feito,não pode ser desfeito".

Quase um século depois, a viúva Liv Halston tenta seguir a vida após a morte precoce de seu marido. Vivendo em uma casa de vidro construída pelo amado, ela leva uma vida solitária, rodeada pela saudade e pelas lembranças, na companhia do quadro “A Garota que você deixou para trás”, presente de casamento do seu marido. No aniversário de quatro anos da morte de David, Liv resolve sair e acaba sua noite em um bar gay, onde tem sua bolsa roubada e conhece o charmoso Paul McCafferty, por quem sente uma atração quase imediata. O que ambos não sabem é que já estão envolvidos pelo destino pois Paul, que trabalha para uma empresa responsável em restituir obras de arte roubadas na guerra, está à procura do famoso quadro do pintor Edouard Lefèvre, a tabua de salvação de Liv.

Jojo Moyes é uma rainha do drama. Não da forma superficial com que a expressão é dita por aí. A autora consegue tecer uma história com uma carga dramática consistente, mas de maneira leve e simplista. Os que já leram o carro chefe da escritora “Como eu era antes de você”, sabem exatamente do que estou falando. Somos guiados pela história de Sophie, narrada em primeira pessoa, como se fossemos um dos habitantes de St. Péronne, é possível ver todo o enredo desenrolando-se a nossa frente. De maneira calma e concisa, Jojo consegue nos fazer sentir simpatia e empatia por Sophie logo de cara, um sentimento causado não apenas pelo apego que o leitor e o ser humano têm pela vítima de uma história, mas pela construção da personagem, que passa de mulher forte e capaz a uma sofredora e fraca (Mais uma vez, não no sentido pejorativo do termo) em questão de páginas.

Já com Liv, parte da história que nos é apresentada em terceira pessoa, leva um pouco mais de tempo para criar identificação. A segunda parte da história é desenrolada de maneira muito apressada, criando uma empatia de certa forma forçada, em que somos impelidos a gostar do personagem. Aqui Jojo se ateve a nos fazer entender a grande dubiedade da trama: torcer pelos herdeiros de Edouard, que tem o legítimo direito ao quadro, ou torcer por Liv, a quem o quadro representa tudo o que resta? Mas o trunfo do livro está justamente em seus últimos momentos, quando ambas as histórias se mesclam de maneira quase imperceptível, instigando o leitor a devorá-lo para descobrir questões que não foram explicadas desde a primeira parte.

A garota que você deixou para trás é um livro de amor. A história de amor entre um homem e uma mulher, a história de amor entre uma mulher e um quadro, do começo ao fim.  Ele foge do apelo emocional usado no livro anterior da autora, mas funciona tão divinamente quanto. Jojo Moyes já mostrou a que veio no mundo literário, e aparentemente, veio para ficar.