A dama do crime está mais viva do que nunca!


Dizer que um bom mistério agrada gregos e troianos é chover no molhado. Não é à toa que personagens como Sherlock Holmes, de Arthur Conan Doyle figuram no imaginário do público, tornando-se elementos inesquecíveis da literatura universal. Talvez por isso nossa autora da semana, ficou famosa por apresentar histórias recheadas de crimes rocambolescos, em que o leitor é convidado a tornar-se  parte integrante da narrativa, como verdadeiro detetive e buscando assim, desvendar quem matou quem e por quê.

Considerada rainha do crime (ou duquesa da morte) Agatha Mary Clarissa Miller ou simplesmente Agatha Christie nasceu em 15 de setembro de 1890, em Torquay, Inglaterra. Filha de um rico americano e de uma inglesa tímida, era caçula de três irmãos. Estudou em casa com a ajuda de tutores, foi pianista, cantora e começou a escrever ao ser desafiada por uma irmã que afirmou que ela jamais criaria um romance. 

Ela foi mais longe escrevendo não um, mas cerca de 80 romances de cunho policial, 19 peças e mais 6 romances sob o pseudônimo de Mary Westmacott, além de dezenas de contos e poemas. Sua vasta obra a fez ser considerada a autora mais publicada de todos os tempos, perdendo apenas para Shakespeare e a bíblia e vendendo mais de 4 bilhões de exemplares em todo o mundo. Agatha foi traduzida para 103 idiomas, além de adaptada inúmeras vezes para a TV, cinema e teatro. A ratoeira, por exemplo, é a peça que mais tempo ficou em cartaz, desde a estreia em Londres, em 1952. 

Me especializei em assassinatos de interesse silencioso e familiar.

De temperamento introvertido, fã de livros de suspense do inglês Graham Greene e aficionada por viagens (característica que herdou do pai), Agatha se casou duas vezes. O primeiro marido (Archibald) era piloto e atuou na segunda guerra mundial. Ao trabalhar num hospital e numa farmácia, Agatha acabou utilizando a experiência em seus livros (muitos de seus assassinatos foram cometidos com uso de veneno, inclusive seu primeiro romance). Com Archibald teve sua única filha, mas  foi traída pelo marido. Nessa época também perdeu a mãe. Acontece então, o maior mistério de sua vida, onde desaparece sem deixar rastros. Passou 11 dias sumida, induzindo no público vários questionamentos: teria tido um surto psicótico, perdera a memória (como afirmara) ou tudo não passou de jogada publicitária para o lançamento de seu novo livro O assassinato de Roger Ackroyd (1926)?. 

O fato é que foi encontrada (graças a um grande esquema da polícia da época) e o livro vendeu bastante, sendo considerado por muitos sua obra prima. Alguns afirmam que O retrato Inacabado (1934, escrito com pseudônimo), em que a personagem pensa em suicídio após ser abandonada pelo marido, é baseada neste momento "tenebroso" de sua vida (Muitos afirmam também que assim como a personagem ela desejava acusar o marido de assassinato). Depois de se separar, ela conhece o arqueólogo Max Malloway, com quem se casa de novo. Max viajava a países exóticos e é destes lugares que ela tirou a ambientação para várias de suas histórias.  

É dela a criação de dois dos personagens mais famosos da literatura policial: Miss Marple e Hercule Poirot. Miss Marple apareceu pela primeira vez em Assassinato na casa do pastor (1930). Ela é uma idosa, que veste roupas de lã e sempre está às voltas com tricotes e bordados. É considerada caduca, mas passa a resolver mistérios que ninguém explica, mostrando uma mente extremamente lógica e afiada, onde desconstrói as fraquezas e truques dos personagens de forma sagaz. 

Um dos atores que viveu Poirot em
uma série de TV.
Já o detetive belga Hercule Poirot, apareceu em mais de 40 romances e 50 contos da escritora. Foi o único personagem  de ficção a ter o obituário publicado na capa do The NewYork Times. De aparência elegante e impecável, pequenino, ostenta um vasto bigode podendo resolver os casos apenas sentado em sua poltrona e analisando unicamente a psicologia humana dos envolvidos nos crimes (sem mesmo analisar provas!). Para ele, a mente humana não tem nenhuma criatividade, pois o seu método é sempre o mesmo. Extravagante, fã da ordem, é considerado pela autora como um chato e rabugento, mas não menos inteligente por isso. Apareceu pela primeira vez em O Misterioso Caso de Styles (1920), o primeiro romance da autora e sua morte (SPOILER) fecha Cai o pano, escrito na década de 1940, mas que por ordem da autora, só deveria ser publicado após seu falecimento (para que não explorassem o personagem depois que ela não estivesse mais neste mundo). Acabou chegando aos leitores em Dezembro de 1975. Dois meses depois a autora veio a falecer, em decorrência de uma pneumonia. Um fim lúgubre e melancólico para o criador e sua criatura.

Sophie Hannah responsável por
"ressuscitar" Poirot
Em 2015 a autora completaria 125 anos e a Nova Fronteira relançou vários de seus livros, com novas capas (até melhores que as originais). Este ano também foi lançado o primeiro  romance publicado após a morte de Agatha, que mesmo com seu nome na capa, não foi escrito por ela (!). Isso mesmo. 39 anos depois do seu último mistério, Poirot retorna agora pelas mãos de Sophie Hannah, autora de Best-Sellers policiais e fã assumida da escritora. Os Crimes do Monograma chegou às livrarias em 8 de setembro e já se tornou um dos acontecimentos editoriais e literários do ano. A trama se passa em 1929, onde três corpos são encontrados em diferentes quartos do Hotel Bloxham, em Londres. Cada um tem na boca um botão de punho com o monograma "PIJ". Poirot então, começa a investigar o caso.

As novas capas dos grandes sucessos de Agatha
pela Nova Fronteira
Não li muitos livros da autora (afinal ela tem uma extensa obra, como visto acima), mas os poucos (em torno de 10) foram o suficiente para fazê-la entrar na minha lista de autores favoritos graças à suas tramas engenhosas, viradas incríveis, finais surpreendentes e muito, muito suspense. Com desfechos totalmente inesperados, é quase impossível descobrir o assassino de seus livros. Pelo menos, nunca acertei um. Seja pelos lugares exóticos, pelas tramas intrigantes ou pelos personagens que em nada devem à Sherlock Holmes, e com uma escrita cheia de elementos intricados que compõem os mais dificílimos quebra-cabeças, Agatha Christie tornou-se uma escritora que consegue prender o leitor da primeira à última página.  Agatha foi coroada dama do império britânico e entrou para o Guinness Book of World Records. Mais do que isso tornou-se a primeira no coração dos leitores de um bom romance policial e provando que os grandes escritores, mesmo mortos, estão mais vivos do que nunca.

Gosto de viver. Algumas vezes me sinto muito, desesperadamente, loucamente miserável, atormentada pela aflição, mas mesmo diante disso tudo eu compreendo que estar viva é uma coisa grandiosa. - Agatha Christie


Aguardando a revelação de um assassinato à la Agatha

Como fico no fim do livro

Um brinde à essa dama da literatura

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